Entendendo o ESG e a importância para a sua empresa
- Carolina Oselame
- 23 de jan. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de abr. de 2023

A compreensão da responsabilidade social abarca um modo de gestão empresarial em desenvolvimento, o Environmental, Social e Governance (ESG). O ideário ESG emerge de filosofias de investimento reunidas em torno da sustentabilidade e, posteriormente, do investimento socialmente responsável. O aprofundamento é decorrente da abrangência da expressão “sustentabilidade” (inicialmente vinculada apenas a questões ambientais), marco para o início de preocupações e práticas empresariais voltadas para, além do lucro, uma governança socialmente responsável.
Estudos apontam que a expressão “desenvolvimento sustentável” ganhou maior notoriedade em 1992, a partir do relatório “Nosso futuro comum” (BERLATO, SAUSSEN; GOMEZ, 2016), documento base da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), mais conhecida como ECO 92 ou RIO 92, uma conferência promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro em 1992, tendo como principal objetivo a proteção ambiental e o alerta para os padrões insustentáveis de consumo e produção nos países industrializados (UNDSD, 1992). Neste viés, a definição de sustentabilidade estaria atrelada ao “desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND et al, 1987, p. 46).
Esta mudança de paradigma comportamental das organizações, inicialmente voltada apenas para a consciência ambiental, rapidamente passou a abranger também a forma como a organização se relaciona com todas as partes interessadas, desde empregados e fornecedores, até consumidores e a sociedade em geral. Assim, a crescente valorização de questões socioambientais no ambiente empresarial fez com que as empresas precisassem inovar para atender as exigências do mercado e da sociedade, e o sucesso da operação, antes mensurado apenas para a margem de lucro e economia da empresa, passa a voltar-se também a partir do desenvolvimento sustentável do negócio.
A Business Roundtable (2019), organização sem fins lucrativos representada por CEOs de quase 200 empresas líderes de mercado nos EUA, divulgou, em agosto de 2019, a declaração “Statement on the Purpose of a Corporation” (“The BRT Statement”), ou, em tradução livre, Declaração sobre o Propósito de uma Corporação. A Declaração de BRT identificou os acionistas como apenas um dos cinco principais interessados na empresa - juntamente com os clientes, trabalhadores, fornecedores e comunidade, substituindo declarações anteriores, que elegiam a primazia do acionista (em que as corporações existem para servir os acionistas). A concepção de que apenas o lucro é o que importa é uma visão que tem dado espaço, no contexto ESG, a uma visão mais global que contempla as repercussões da atividade empresarial e sua responsabilidade social.
O ideário em que se ampara a conceituação ESG está atrelado aos fundamentos do Triple Bottom Line (TBL), criado por John Elkington (ELKINGTON 2021) na década de 90, que propõe que as organizações englobem três pilares como base: People (pessoas); Planet (planeta) e Profit (lucro) também intitulado como os “3Ps da Sustentabilidade”. Após ser difundida a implementação de estratégias visando relações sustentáveis com todos os atores da cadeia (organizações, consumidores e sociedade), era necessário que se visualizasse dados - de forma fidedigna - entre as empresas que se rotulavam como sustentáveis e seguidoras dos princípios TBL, das empresas que realmente aplicavam práticas sustentáveis e fundamentos TBL.
Assim, com o intuito, de fornecer indicadores que tivessem como objetivo qualificar empresas que apresentassem ações voltadas para a preservação do meio ambiente, desenvolvimento e valorização dos colaboradores e comunidade que surgiram os índices ESG (BARRETO, 2021).
Como visto, a sigla ESG significa Environmental, Social e Governance (ambiental, social e governança), e, em síntese, agrega um conjunto de princípios que refletem uma governança corporativa comprometida com a promoção e preservação ambiental e o desenvolvimento social. A sigla surgiu pela primeira vez em um relatório intitulado “Who Cares Wins” (“Ganha quem se importa”, em tradução livre), resultado de uma iniciativa conjunta desenvolvida pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) com instituições financeiras (inclusive brasileiras) (BARRETO, 2021), o advento do termo seguiu como um protocolo de intenções a ser implementado pelas instituições financeiras perante fundos de investimento, gestores de fundos e corretoras (THE GLOBAL COMPACT, 2004, p.1).
Estudo realizado pela Universidade de Harvard (BERGMAN; DECKELBAUM; KARB, 2020) apontou o conjunto de iniciativas que está ligado a cada uma das premissas básicas do ESG, conforme segue:
● O “E”: está ligado a eficiência de energia, políticas de carbono, emissões de gases de efeito estufa, desmatamento, biodiversidade, mudança climática e mitigação de poluição, gestão de resíduos e uso de água.
● O “S”: cobre as normas trabalhistas, salários e benefícios, local de trabalho e diversidade do conselho, justiça racial, igualdade salarial, direitos humanos, gestão de talentos, relações com a comunidade, privacidade e proteção de dados, saúde e segurança, gestão da cadeia de abastecimento e outro capital humano e questões de justiça social.
● O “G”: abrange a governança das categorias “E” e “S” - composição e estrutura do conselho corporativo, supervisão e conformidade de sustentabilidade estratégica, remuneração executiva, contribuições políticas, lobby e corrupção.
Consumidores e investidores estão valorizando cada vez mais o ESG, o acompanhamento pela sociedade do efetivo alinhamento prático das empresas com princípios socialmente responsáveis e governança ética e comprometida (pilares ESG), demonstra ser um irreversível marco empresarial e social.
REFERÊNCIAS:
BARRETO, Rodrigo Morena Paz. ESG e a Tutela Constitucional da Sustentabilidade. 2021. 81 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Nove de Julho, São Paulo. Disponível em: http://bibliotecatede.uninove.br/handle/tede/2967. Acesso em 07/07/2022.
BERLATO, Larissa Fontoura; SAUSSEN, Fabiane; GOMEZ, Luiz Salomão Ribas. A sustentabilidade empresarial como vantagem competitiva. DAPesqiosa, v. 11 n. 15, 2016. Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/dapesquisa/issue/view/479. Acesso em: 22 out. 2022
BERGMAN, Mark; DECKELBAUM, Ariel; KARB, Brad. Introduction to ESG. Harvard Law School Forum on Corporate Governance. Boston, 2020. Disponível em: https://corpgov.law.harvard.edu/2020/08/01/introduction-to-esg/ Acesso em: 23 set. 2022.
BRUNDTLAND, G. et. al. Our Common Future: The World Commission on Environment and Development. New York: ONU, 1987, 300p.
BUSINESS ROUNDTABLE. Business Roundtable Redefines the Purpose of a Corporation to Promot “An Enonomy That Serves All Americans”. Washington D.C., 19 Aug. 2019. Disponível em: https://www.businessroundtable.org/business-roundtable-redefines-the-purpose-of-a-corporation-to-promote-an-economy-that-serves-all-americans. Acesso em: 23 out. 2022.



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